Boletim Maio 2023

Eu a levarei para o deserto e lá falarei em seu coração…

Em carta de 1898, a um amigo trapista, São Carlos de Foucauld dizia: “É preciso passar pelo deserto e nele permanecer para receber a graça de Deus, é no deserto onde se esvazia e desapega de tudo que não é Deus, e onde a casa da nossa alma se esvazia completamente para deixar todo O local só para Deus. Os hebreus passaram pelo deserto, Moisés viveu nele antes de receber sua missão, São Paulo Saindo de Damasco, foi passar três anos na Arábia. Seus padroeiros São Jerônimo e São João Crisóstomo também se prepararam no deserto. É indispensável. É um tempo de graça. É um período pelo qual deve necessariamente passar toda a alma que quer dar frutos. Esse silêncio, esse recolhimento é necessário… E é na solidão que Deus se entrega totalmente a quem se entrega totalmente a Ele. A vida interior é nula, é uma fonte que gostaria de dar santidade aos outros, mas não pode, porque lhe falta.

 

O santo monge missionário do Saara teve uma riquíssima experiência de vida no deserto. Os autores espirituais que comentam sua obra, porém, não se detêm apenas na experiência do deserto físico.
Dos anos em Akbés (Síria) e Tamanrasset (Argélia), mas aludem aos desertos interiores. Porque ele é o próprio danto, que assim interpretou a solidão, o principal deserto é o da solidão da alma com Deus, que é uma solidão principalmente afetiva, fruto do desprendimento e da generosa dedicação a Deus por seu amor.

 

Carlos de Foucauld, viu concretizada na sua vida, desde a sua infância, a promessa que Deus fez ao povo de Israel, e a cada alma, através do profeta Oséias: Eu a seduzirei, levarei-a ao deserto e falarei ao teu coração… Lá ela responderá como nos dias da sua juventude, como no dia em que saiu da terra do Egito (2,16-17). Aquele deserto ao qual Deus conduz as almas com quem quer falar intimamente é o deserto da provação, o deserto e a solidão do abandono e da luta agonizante contra si mesmo e contra os inimigos da alma.

 

Certamente, nem sempre é possível ver na vida aquela condução divina à distância e ao silêncio da alma Na vida de Carlos de Foucauld há um grande período de perda de fé, frieza e desvios morais e humanos. Mas a mão de Deus o carrega durante todos esses anos de forma inflexível, porque a vontade de Deus sempre se cumpre. Toda a marcha da alma daquele jovem soldado e promissor explorador, que ele mesmo acreditava conduzir, termina no encontro com Deus na solidão e no nada de todas as criaturas. Ali se satisfaz o coração que se desencantou de tudo menos de Deus. E aí dá a sua resposta, o seu fruto, o alvoroço espiritual da fonte da graça recebida.

 

São João da Cruz, mestre de Carlos de Foucauld naqueles anos de conversão e fortalecimento espiritual, tem no seu cântico espiritual uma magnífica estrofe, que é um belo hino àquela solidão em que Deus desabafa com a alma de seus escolhidos;

“Em solidão vivia
e na solidão já fez seu ninho
e na solidão o guia
sozinho com sua amada, também sozinho com o amor ferido”. (canção 35).

 

No comentário que o próprio místico Doutor faz a esses versos, ele aponta que duas coisas são ditas aquí sobre a alma: a primeira, que na solidão de afeto em que a alma quis viver, ela encontrou seu Amado, que é Deus; a segunda, que, porque a alma cuidou de não querer nada fora Dele e de sua vontade, então Deus
Ele mesmo cuidou dela, recebendo-a em seus braços, alimentando-a com todos os bens, guiando-a o seu espírito às coisas altas de Deus.

 

Para São João da Cruz, a alma tem que se colocar na solidão para poder ir ao encontro de Deus, e unir-se a Ele. Ordem material e ordem espiritual. A solidão em que vivia antes estava querendo faltar para o seu Esposo todas as coisas e bens do mundo (como dissemos anteriormente) tentando se tornar perfeita, adquirindo a solidão perfeita. Sim, é um desespero e um deserto que deve ser feito antes de tudo com carinho, como diria Santo Inácio. Não é tanto não ter nem gozar das coisas, mas não querer ter, nem gozar, nem amar nada senão por causa de Deus e para a glória de Deus naquela solidão que a alma tem de todas as coisas em que está só com Deus, guia e move e eleva as coisas divinas… porque, depois que a alma liberou esses poderes e os esvaziou de tudo o que é inferior e da propriedade do superior, deixando-os sozinhos sem ele, Deus imediatamente os usa nela Invisível e divina, e é Deus quem a guia nesta solidão.

 

Às almas que assim se desnudam para Deus, Ele as enche da sua graça também na solidão”, com o que São João da Cruz quer dizer que lhes dá as suas graças e a sua força sem intermediários, de espírito para espírito, sendo Ele é o único que se comunica com eles, pois, além de amar muito a solidão da alma, o Esposo é muito mais ferido por seu amor por ter querido ficar sozinho de todas as coisas, porque ela foi ferida de amor. Para ele. E assim, ele não quis deixá-la sozinha, mas ferido por ela pela solidão que ela tem para ele, vendo que ela não se contenta com mais nada, ele apenas a guia para si, atraindo-a e absorvendo-a em si, o que ele não faria no passado, se não a tivesse encontrado em solidão espiritual.


É o que significa profundamente aquela afirmação de Charles de Foucauld, segundo a qual é essencial atravessar o deserto para receber a graça de Deus. Isso se não nos esforçarmos continuamente para colocar nosso amor somente em Deus e em sua vontade, fazendo todos os dias para cumpri-la de maneira mais pronta, pura, grata e confiante; não poderemos receber em nossos corações toda a fonte de graças que Deus nos quer dar.

 

Por isso encorajo as mães e mulheres que rezam pelas vocações nas 40 horas do mês, a Na medida de suas forças, acrescentar às suas intenções e orações, a conformidade do seu coração com o de Cristo e o de sua Mãe. Que coloquem sua alma no deserto da solidão para amar somente a Deus, e as outras coisas somente por amor a Ele para que Deus, de mãos cheias, encha o mundo com suas graças infinitas


P. Juan Manuel del Corazón de Jesús Rossi

24 de abril de 2023

Cartago, Tunísia

Oração de São Paulo VI

Jesus, bom pastor,

Vós que viestes

buscar e salvar o que foi perdido:

Vós que instituístes

o sacerdócio da Igreja,

que há de continuar seu trabalho

para sempre,

pedimos insistentemente:

Envie trabalhadores para sua colheita!

Envia dignos sacerdotes à tua Igreja!

Envie religiosos e religiosas!

Faça-os seguir seu chamado

todos os que desde a eternidade

escolhestes para o Vosso santo serviço.

Mas não permita que se atreva a penetrar

em seu Santuário sem ter recebido esse chamado.

 

Fortalece, Senhor,

a todos os vossos sacerdotes e religiosos

na sua difícil vocação

e abençoe seus esforços e trabalhos.

Que sejam o sal da terra

que previne a corrupção;

que sejam luz do mundo

que ilumina a todos com a sua palavra

e pelo seu exemplo.

Conceda-lhes sabedoria, paciência e força

para que busquem a tua glória,

espalhe seu reino nos corações dos homens

e conduza as almas a eles confiadas

para a vida eterna. Amém.


Maria, Rainha dos Apóstolos, rogai por nós.

São João Paulo II: Você tem medo?

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II PARA O XVI DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES (1979)


Falei particularmente à vocês, jovens. Em vez disso, gostaria de falar com vocês, com cada um de vocês, vocês são muito queridos para mim e tenho muita confiança em vocês. Eu os chamo de esperança da Igreja e minha esperança.

 

Vamos lembrar algumas coisas juntos. No tesouro do Evangelho conservam-se as belas respostas dadas ao Senhor que chamou. A de Pedro e a de seu irmão André: “Deixaram imediatamente as redes e o seguiram (Mc 4, 20). A do publicano Levi: “Ele deixou tudo, levantou-se e o seguiu” (Lc 5, 28). Dos Apóstolos: “Senhor, aonde iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6, 68). Saulo: “Que devo fazer, Senhor?” (Atos 22, 10). Muitos homens e mulheres deram a sua resposta pessoal, a sua resposta livre e consciente a Cristo que chama, escolheram o sacerdócio, a vida religiosa, a vida missionária como objetivo ideal da sua existência, serviram o povo de Deus. E a humanidade com fé, com inteligência, com coragem, com amor. Sua hora chegou. Cabe a você responder. Você está com medo?

 

Reflitamos, então, juntos à luz da fé. Nossa vida é um dom de Deus, devemos fazer algo de bom. São muitos os modos de viver bem a vida, colocando-a ao serviço dos ideais humanos e cristãos. Se hoje vos falo da consagração total a Deus no sacerdócio, na vida religiosa e na vida missionária, é porque Cristo chama muitos de vós a esta extraordinária aventura. Ele precisa, quer precisar do seu pessoal, da sua inteligência, da sua energia. Da vossa fé, do vosso amor e da vossa santidade. Se Cristo vos chama ao sacerdócio, é porque quer exercer o seu sacerdócio através da vossa consagração e missão sacerdotal. Ele quer falar aos homens de hoje com a sua voz. Consagrai a Eucaristia e perdoai os pecados por vosso intermédio. Ame com o coração. Ajude com as mãos. Economize com seu cansaço, pense bem nisso. A resposta que muitos de vós podem dar dirige-se pessoalmente a Cristo, que vos chama a estas grandes coisas.

 

Você encontrará dificuldades, talvez pense que eu não as conheço? Eu te digo que o amor supera qualquer dificuldade. A verdadeira resposta a toda vocação é uma obra de amor. A resposta à vocação sacerdotal, religiosa e missionária só pode nascer de um profundo amor a Cristo. Esta força de amor é oferecida a você por Ele mesmo, como um dom que se soma ao dom do seu chamado e torna possível a vossa resposta. Tenham confiança “Aquele que é poderoso para nos fazer abundar mais do que pedimos ou pensamos (Ef 3, 20), E, se puderes, dá a tua vida com alegria, sem medo, Àquele que antes deu a sua por ti.

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